Um dos missiólogo comtemporâneos mais renomados é
Donald McGavran, uqe se concentrou num tipo de “crescimento da igreja”
que ultrapassa os conceitos tradionais das campanhas evangelísticas,
mesmo quando apoiadas por custosas equipes e organizações evangélicas.
Durante mais de meio século ele tem-se mostrado um ativista missionário
dinâmico, vitalmente envolvido em evangelização transcultural, embora
descontente com a tradiciona abordagem do posto missionário. Nas palavras
de Arthur Glasser, um dos líderes da estratégia missionária, a “sua
tese é a de que as ciências sociais podem associar-se à tarefa missionária.
A pesquisa e a análise têm condições de re mover
os obstáculos ao crescimento da igreja. Ele é de fato o Apóstolo do
Crescimento da Igreja." O crescimento da igreja em si, ou seja, a
evangelização centralizada basicamente na igreja, talvez pareça um tema
pouco polêmico, sobre o qual todos podem concordar, mas McGavran
introduziu um novo aspecto no assunto que o lançou bem no centro do mais
ardente debate. De fato, as maiores discussões a respeito da estratégia
missionária em décadas recentes focalizam as suas idéias. "Ele tem
sido louvado e amaldiçoado", segundo David Allen Hubbard, "mas
jamais ignorado".
McGavran nasceu na índia em 1897, filho e neto de missionários.
Apesar do precedente estabelecido diante dele, as missões no estrangeiro
não foram uma escolha automática de profissão. Ele na verdade
rebelou-se inicialmente contra a idéia de uma vida de dificuldades econômicas.
"Meu pai já fez o suficiente para o Senhor", raciocinou.
"Está na hora de lutar sozinho e ganhar algum dinheiro." Seus
dias de estudante na Universidade Butler foram relativamente tranqüilos.
Como presidente da classe do último ano e um orador temível, tinha todos
os sinais de sucesso e uma carreira jurídica era a sua grande ambição.
Mas isso foi antes de entregar sua vida a Cristo, e o Movimento Voluntário
Estudantil o envolver. Suas aspirações mudaram. Depois da Escola de
Teologia de Yale ele conheceu sua futura esposa numa reunião do MVE,
casou-se, e embarcou para a Índia;
começou então uma vida aventurosa e produtiva que incluiu defender-se de
um tigre em certa ocasião e de um javali em outra, detendo "quase
sozinho uma epidemia de cólera", subindo ao Himalaia, andando pela
seiva em ilhas remotas nas Filipinas, realizando seminários através da
África, produzindo um filme e escrevendo mais de uma dúzia de livros.
Porém, a aposentadoria não constava de seus planos. Em 1973, durante seu
76º aniversário ele escreveu três livros, deu aulas e realizou projetos
de pesquisas com aparentemente nenhuma inclinação para diminuir seu
ritmo de trabalho e nos anos que se seguiram sua vida agitada
continuou." Em 1983 ele realizou seminários na Índia e no Japão no
mesmo mês, em duas viagens separadas.
A carreira missionária de McGavran começou em Harda, na Índia,
como superintendente de uma escola de missão, servindo sob a Sociedade
Missionária Cristã Unida ("United Christian Missionary Society").
Mais tarde serviu em outros cargos associados com a educação e serviços
médicos, sendo também ativo no trabalho de tradução e evangelização.
Em meados dos anos 30 seu trabalho missionário interrompeu-se por algum
tempo, a fim de continuar seus estudos superiores, recebendo o diploma de
Doutor em Filosofia na Universidade de Columbia.
Durante outras duas décadas sua carreira missionária continuou
concentrada na Índia, em cujo período ele se envolveu profundamente no
estudo do fenômeno do movimento de massas, mas em meados dos anos 50 a
missão passou a fazer uso dele em atividades mais amplas. Sua experiência
prática e sua sede insaciável de aprender de outros missionários o
fizeram compreender a necessidade de urna teoria missionária sólida, bem
fundamentada, e ele começou a dedicar suas energias a essa disciplina.
McGavran percebera de há muito que a obra realizada pelos missionários
estava conseguindo bem pouco no sentido de alcançar o alvo da evangelização
mundial, e ansiava para que fossem feitas pesquisas, a fim de desenvolver
novos conceitos de estratégias missionárias. Nessa época ele começou a
ensinar sobre missões em várias entidades cristãs e no ano de 1961
fundou o Instituto de Crescimento da Igreja ("Institute of Church
Growth"), ao qual seu nome está ligado há mais de duas décadas.
McGavran estudou as atividades evangelísticas de outros, a fim de
descobrir princípios e metodologias que resultassem no crescimento da
igreja. Método algum era sagrado ou além do escrutínio da investigação
científica. Até mesmo a Evangelização-em-Profundidade de Ken Strachan
sofreu um exame. "A pesquisa cuidadosa em diversas repúblicas
latino-americanas", segundo C. Peter Wagner, "não demonstrou
qualquer relação de causa e efeito entre os esforços feitos durante um
ano pela Evangelização-em-Profundidade e os coeficientes de aumento do
crescimento nas igrejas"." Para McGavran e seus discípulos, a
real incorporação dos convertidos na igreja - não necessariamente o número
de "decisões" - era o fator-chave na avaliação da metodologia
missionária. Por essa razão, os métodos evangelísticos tradicionais
foram testados. Se a evangelização das cruzadas resultava em crescimento
da igreja, McGavran procurava descobrir o porquê e aplicava então os
princípios descobertos em outros lugares.
Através do seu Instituto de Crescimento da Igreja a pesquisa
missionária desenvolveu-se mais plenamente do que em qualquer outro lugar
ou época da história da igreja cristã. Ele fundou o instituto na
faculdade Cristã North-west em Eugene, estado de Oregon, começando em
1961 com um único aluno.
Em 1965 o instituto mudou-se para Pasadena e MeGavran tornou-se o
deão- fundador da Escola de Missões Mundiais no Seminário Teológico
Fuller. Em anos recentes, mais de cem missionários veteranos (corri seus
conhecimentos inestimáveis) passaram anualmente pela escola e alguns dos
melhores missiólogos do mundo se juntaram a ele em suas pesquisas e
ensinamentos. Os teoristas de missões têm ficado bastante impressionados
com seus pontos de vista modernos e científicos. "Ele sempre se
orientou de acordo com um objetivo. Tratava com princípios e não métodos.
Os métodos eram aceitos ou rejeitados... com base no que chamava de
'pragmatismo feroz'. A
pesquisa tornou-se seu principal instrumento.
Apoiado em sua pesquisa, McGavran concluiu não só que os métodos
tradicionais de evangelização em massa contribuíam muito pouco para o
crescimento real da igreja, como também que o principal avanço missionário
de todo o século XIX e grande parte do XX havia sido mal dirigido. A
abordagem do tipo posto-missionário que predominou nas missões durante
quase dois séculos simplesmente não permitira a expansão espontânea
que tanto caracterizara a igreja primitiva. Embora os missionários
tivessem trabalhado diligentemente para estabelecer igrejas indígenas, o
cristianismo continuou a concentrar-se ao redor do posto missionário.
"Essas igrejas de estação missionária", escreve McGa- vran,
"não possuem as qualidades necessárias para o crescimento e
multiplicação". A razão básica é que os convertidos são muitas
vezes segregados de seus antigos relacionamentos sociais e passam a ter
apenas comunhão com outros cristãos do posto missionário. Eles
geralmente sentem-se "incomparavelmente superiores a seus parentes não-convertidos",
exercendo assim uma influência limitada sobre os mesmos quanto à
evangelização. O resultado é a criação não premeditada e mal
orientada de uma nova tribo, uma nova casta, uma sociedade separada. Ele
notou que em tais casos os convertidos tendem a depender excessivamente da
missão para obterem emprego e serviços sociais e algumas vezes
"extraem a fácil conclusão de que se mais pessoas se tornarem cristãs
os recursos da mesma diminuirão", resultando em casos de "terem
até desencorajado prováveis candidatos à conversão ao
cristianismo".
Qual é então a resposta? Movimentos populares, segundo McGavran -
movimentos de tribos inteiras ou "unidades homogêneas" em direção
ao cristianismo. Tais conversões "multi-individuais" em lugar
de individuais, na opinião de McGavran, eram muito mais duradouras e estáveis
para o crescimento da igreja. Tais movimentos tinham ocorrido no passado
mas "raramente haviam sido procurados ou desejados". Na Índia,
quase todos esses movimentos foram de fato "rejeitados pelos líderes
da igreja e missão onde tiveram início", em parte devido "à
preferência ocidental pela decisão individual" em vez da "de-
cisão corporativa".
O aspecto mais controverso do conceito do Movimento Popular de
McGavran, chamado de Princípio da Unidade Homogênea, tornou-se sem dúvida
ainda mais disseminado quando ele fez um discurso na sessão plenária do
Congresso de Lausanne em 1974. Contra uma corrente de ideologia fortemente
integracionista, ele argumentou que a consciência de raça não devia ser
vista como um fator negativo, mas positivo no processo de evangelização
mundial. "Não adianta", insistiu, "dizer que as tribos não
devem ter preconceito de raça. Elas têm e se orgulham disso. Tal atitude
precisa ser compreendida e transformada em instrumento a favor do
cristianismo." McGavran não estava de forma alguma defendendo o
preconceito racial, pois se opunha inflexivelmente ao mesmo. Mas insistia
em que livrar-se do preconceito não deveria ser um pré-requisito para
tornar-se cristão. Ele definiu dois "estágios do
cristianismo": "discipulado" e "aperfeiçoamento".
O primeiro estágio abrange os passos a serem dados para a pessoa se
tornar cristã, e o segundo, o crescimento na vida cristã. Só no segundo
estágio, acreditava ele, é que podia ser conseguido verdadeiro progresso
no sentido de erradicar o preconceito racial."
Um dos críticos mais acerbos de McGavran foi John H. Yoder, teólogo
anabatista, que pôs em dúvida a sinceridade da abordagem do mesmo.
"Eu julgarei que o missionário estivesse tentando me enganar",
acusou ele, "se me dissesse depois de ter sido batizado que eu tinha
de amar os negros, quando não fez isso antes". "Se não
tivermos dito que a igreja cristã é uma comunidade integrada
inicialmente", perguntou ele, "que autoridade teremos para
convocar um movimento no sentido da integração mais tarde?"" A
resposta de McGavran teria sido que exigir amor e oferecer nada menos que
casamentos mistos são duas coisas diferentes.
Outro crítico do Princípio de Unidade Homogênea de McGavran foi
Rene Padilla, um missiólogo latino-americano. A se ver, a unidade homogênea
é sub-cristã e pecaminosa: "A idéia é que as pessoas gostem de
estar com aqueles de sua própria raça e classe e devemos portanto
implantar igrejas segregadas, que indubitavelmente crescerão mais
depressa. Fomos informados que o preconceito racial precisa ser
compreendido e transformado em instrumento a favor do cristianismo'. Não
há manipulação exegética que possa conciliar esta abordagem com o
ensino explícito do Novo Testamento com relação à unidade dos homens
no corpo de Cristo..."
Em virtude de seus escritos prolíficos e suas idéias inovadoras
McGavran tem estado no centro dos debates a respeito da estratégia
missionária. Seus críticos "o acusaram de enfatizar a quantidade às
custas da qualidade; de preocupar-se tanto com a salvação de alguns que
negligenciou servir às necessidades humanas; de lutar pela expansão da
igreja e ficar cego às necessidades humanas; de lutar pela expansão da
igreja e ficar cego às necessidades da justiça social; e de confiar no
esforço humano em lugar de no Espírito Santo".
McGavran, segundo Arthur Giasser, é "mais amplamente
citado" e "Mais fervorosamente debatido do que qualquer outro no
campo das missões em nossos dias". Ele "perturbou completamente
a antiga, tradicional e grandemente improdutiva metodologia missionária
que dominou todas as missões... antes de 1955"." Em muitos
aspectos, sua importância não se encontra tanto na exatidão de suas
respostas como nas questões significativas que levantou, na paixão apostólica
com que alterou as respostas aceitas e na maneira como (mais que qualquer
outro) ele elevou o estudo das missões de simples cursos introdutórios
em algumas escolas cristãs para um nível de estudos profissionais
abrangente, em todo o mundo.
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